O briefing pedia uma música solar. A gente perguntou: o sol de qual praia?

O maior complicador do áudio publicitário não é a técnica, é o vocabulário. Entenda como transformamos adjetivos abstratos em ondas sonoras reais.

Existe um momento de climão em toda reunião de kick-off de um projeto de áudio. É a hora em que o cliente, infalível como Bruce Lee, abre no PowerPoint o slide de atributos da marca e diz: "A nossa identidade sonora precisa ser... disruptiva, humana, e ter um toque premium… Sem soar arrogante." Todo mundo na sala faz sim com a cabeça. As palavras são lindonas, a intenção é a melhor possível, quem discordaria do Bruce? O problema é que, tecnicamente, nenhuma dessas palavras existe na música.

Não existe uma nota musical "disruptiva". Não existe um acorde "premium". Não existe nem mesmo um ritmo "humano". O que existe são frequências, timbres, melodias, harmonias, andamentos. Por isso, nosso trabalho na Jinga, antes de tocar qualquer instrumento, é o de atuar como intérpretes. Nós começamos traduzindo do "Publicitês" para o "Musiquês".

A Torre de Babel Subjetiva

O perigo do briefing (antes da tradução) é que cada pessoa entende uma coisa diferente quando ouve ou lê a mesma palavra. Por exemplo, se alguém disser "Quero algo solar": o Diretor de Criação imagina um Surf Rock californiano dos anos 60; o CEO imagina uma Bossa Nova num lounge em Ipanema; o RTV imagina um reggae da Jamaica; e o CMO imagina um Pop Eletrônico do Festival de Verão Salvador.

Se a produtora se jogar e sair fazendo a música baseada apenas na palavra "solar", a chance de frustração é próxima de 100%. E vai ter como feedback o famoso "ficou bacana, mas não era essa a parada que a gente tinha na cabeça". Parada dura.

A Alquimia da Tradução

Como a gente resolve esse gargalo? Com nossa metodologia própria de decodificação. Nós pegamos os seus adjetivos e os transmutamos em parâmetros técnicos.

"Inovador" traduzido costuma virar: timbres sintéticos, sound design não-linear, ritmo sincopado, vocal chops, zero de clichês acústicos.

"Humano" geralmente vira: imperfeição na execução, instrumentos acústicos com execução fluida, trastejos, glissandos, respiração aparente na voz, andamento não quantizado (que oscila levemente).

"Premium" quase sempre vira: espaço (silêncio) grande entre as frases, frequências graves super limpas, arranjos orquestrais de câmara, mixagem com muita dinâmica, agudos definidos por harmônicos.

Quando a gente apresenta uma proposta, a gente não diz "ouve aí que música legal". Em geral, aliás, a gente costuma é não dizer nada, e esperar que a música se explique sozinha. Mas a gente pode dizer, por exemplo: "Usamos texturas sintéticas granuladas e polirritmia na base para traduzir a 'inovação' que vocês pediram no slide 4." Isso tira a música do terreno do "gosto pessoal" e coloca no terreno da estratégia.

Toda a música que fazemos na Jinga é, antes de mais nada, estratégica. Por isso, quando você diz que quer uma música alegre, a gente provavelmente vai perguntar: alegre tipo entrou em férias? Tipo acertou na Mega Sena? Encontrou um grande amigo? Venceu na Libertadores? Se safou de uma roubada?

Never Lost In Translation

Dizem que música é a linguagem universal. Mentira. Não é. A música é uma linguagem, ponto. O que é de fato universal é a emoção. A especialidade da Jinga é garantir que a música que sai das caixas de som (e dos fones de ouvido) transmita a emoção exata que você e sua equipe planejaram lá na sua sala de reunião. Nós somos a ponte entre o seu PPT e o ouvido do seu cliente.

Por isso, na próxima vez que for pedir uma trilha, um jingle, uma brand song, não se preocupe em saber termos musicais. Pode falar em "Publicitês". E dizer que quer algo alegre. Ou algo doce. Ou aveludado. Ou com cheiro de praia. O que você quiser. A gente entende. A gente traduz.

Quer saber como a sua próxima campanha e marca podem soar em "Musiquês" fluente? Fale com a gente.

 

"A música pode nomear o inomeável e comunicar o insondável."
- Leonard Bernstein (1918-1990)

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