IA é a ferramenta certa para as marcas incertas
A IA usa probabilidade e as marcas icônicas, a improbabilidade. Entenda a diferença antes de criar o próximo chuchu sonoro.
Primeiro, vamos tirar o bode digital da sala. Xô, Ioiô!
Em algum momento recente, você ou alguém perto de você pensou: "Será que podemos gerar essa trilha numa IA tipo Suno ou Udio e economizar a grana da produtora?".
Resposta da produtora: claro que pode.
Isso se você não se importar em assistir a marca sumindo.
Não somos luditas aqui. Na Jinga, adoramos tecnologia desde o nosso primeiro synth Yamaha DX7. Mas existe um detalhe tecnológico do tamanho do Maracanã sobre como a Inteligência Artificial funciona: a IA é uma máquina de fazer médias.
A Matemática da Coluna do Meio
Sem querer parecer nerd, mas já parecendo, precisamos estabelecer a lógica. Modelos generativos (LLMs e de Áudio) são treinados com tudo o que já foi produzido e registrado de algum jeito na história.
Quando você pede uma "trilha pop animada", o algoritmo analisa milhões de músicas pop animadas e calcula, estatisticamente, qual é a combinação de notas, timbres e ritmos mais provável de satisfazer ao seu pedido.
E as duas palavras-chave são essas: mais provável. Nelas mora a bênção, mas também a maldição.
A IA busca o padrão. Ela busca o consenso. E quando ela entrega o resultado - ele é a "média perfeita" de tudo o que ela aprendeu nesse mundão de Deus.
O problema? Branding é (ou devia ser) o oposto de média.
Branding é sobre ser incomum. É sobre a quebra do padrão. É sobre o elemento estranho, o detalhe improvável, a surpresa, a mosca na sopa, a joia rara, a sonoridade da sanfona que ninguém usou ainda.
Se você usa uma ferramenta que foi desenhada para encontrar o padrão mais comum, você está, por definição científica, criando algo genérico.
Você está, nas nossas palavras, criando um "chuchu sonoro".
O Paradoxo da Perfeição
As trilhas geradas por IA são a cada dia mais impressionantes. Elas são afinadas, estão no tempo certo, têm a instrumentação de livro de Conservatório para cada estilo.
Nada contra fazer as coisas bem feitas (a gente ama o craft), mas elas são "corretas" até o talo. A ponto de ficarem "erradas". Tudo o que ganham em exatidão, perdem em personalidade e singularidade.
Falta a elas o que chamamos de "erros charmosos" ou de "deslizes da alma". A verdadeira perfeição, acredite, é imperfeita.
Pense nas marcas mais icônicas ou nas músicas que você ouve sem cansar. Quase sempre, o que prende a atenção é uma voz levemente rouca, uma guitarra com um timbre maluco, uma batida que atrasa um tiquinho. É justamente a imperfeição humana que gera conexão humana.
A IA limpa essas arestas. Ela te entrega um produto homogeneizado, pasteurizado, estéril. E, num feed onde todo mundo está usando as mesmas ferramentas para gerar o mesmo tipo de conteúdo, a perfeição asséptica transforma tudo em árvore na Amazônia: primeiro dificilmente visível, depois invisível mesmo.
Alucinação vs. Intenção
Tem mais: como a IA gera coisas baseada em sorteio estatístico, ela às vezes "alucina".
Quer prova maior que essa de que a IA simplesmente chuta sempre na direção do mais provável?
Branding exige a intenção de sair da paisagem.
Quando fazemos um Sonic Logo aqui na Jinga, pra cada escolha (metais ou madeiras? Allegro ou vivace?), a gente toma uma decisão estratégica baseada nas qualidades da marca. Não na média das soluções de Sonic Logos premiados dos últimos 25 anos.
A IA não sabe o que é "estratégia". Mas sabe o que ela sabe muito bem? Ela sabe o que é "tag". A IA não escolhe um som porque ele comunica "inovação sustentável". Ela escolhe porque aquele som estatisticamente aparece muitas vezes junto com a tag "natureza".
Deixar a identidade da marca na mão da estatística é tipo deixar o posicionamento dela ser definido pelos números que saíram na Mega Sena.
Então a IA é inútil?
De jeito nenhum. Pelo contrário. A IA define onde está a linha da mediocridade, e isso é muito útil: porque aí a gente vê exatamente onde a mediocridade está, e pode pular acima dela.
Mas isso é assunto para o próximo artigo, onde vamos contar pra você como o nosso "time de ciborgues" (humanos + máquinas) vem trabalhando na Jinga.
Resumo da Ópera Rock
Se o seu objetivo é apenas preencher o silêncio de um vídeo interno, a IA resolve e é barata. (Também usamos fotos de IA aqui nesse nosso blog, por exemplo).
Mas se o seu objetivo é construir uma marca que seja reconhecida, lembrada, amada e idolatrada, salve, salve... então fugir da "média perfeita" é obrigação.
Marca nenhuma merece virar uma estatística de algoritmo. Mediano e medíocre soam parecido, e não é por acaso.
Quer ir pra muito acima da média? Fale com a gente.
"Se for fazer tudo pela média, você vai terminar falando com homens de um testículo só e com mulheres de um seio só.”
- Michele Caetano / Diretor de Criação (1950-2021)