Uma Onça na Antártida
Por que Música Perfeita no Estúdio às Vezes Não Funciona na Loja?
Já aconteceu com você? A identidade sonora fica matadora. No estúdio, ouvindo nos monitores de referência, o Sonic Logo impressiona. Na sala de reuniões da agência, a Brand Song arrepia e, nos fones, o jingle emociona. O cliente aprova tudo com o entusiasmo de ganhador do BBB. Aí o som vai para a loja conceito, aquele espaço de vidro e concreto visualmente deslumbrante, e alguma coisa muda. O logo percussivo perde a definição, embrulha. O jingle cheio de energia compete com o ar condicionado e a zoeira que vaza da rua, se transformando numa massa incômoda. O cliente liga de volta: "Não funcionou. O som está diferente. Tem gente reclamando."
A culpa não é nem da música nem da Criação. O que acontece é físico: superfícies duras criam reverberação. O som ricocheteia múltiplas vezes, embaralhando as notas. O que era nítido no estúdio vira uma confusão acústica na loja. Fica ruim. Agora, a boa notícia: isso tem como ser, em grande parte, resolvido. Não fazemos mágica com as leis da física, mas a diferença entre um som tratado e um som abandonado à própria sorte pode ser gigante.
A Pergunta que Mudou Nossa Forma de Trabalhar
Por que sons tecnicamente perfeitos flopam em determinados espaços? Fomos buscar respostas, acredite, na ciência da paisagem sonora natural. O genial pesquisador Bernie Krause notou que animais evoluem para cantar em frequências que não competem com o ambiente onde eles vivem. Um pássaro não gasta energia competindo com o estrondo grave da cachoeira; ele adapta seu canto para frequências que, mais agudas, conseguem atravessar esse ruído.
Nos demos conta que, ao mirar nos padrões da indústria para broadcast, a gente estava ignorando um princípio natural de milhões de anos. É daí que vem a metáfora do título: a onça-pintada é a rainha da floresta Amazônica, mas se você a coloca na Antártida, ela não sobrevive. Não porque a onça seja fraca ou frágil, mas porque ela não foi feita para aquele ambiente.
O mesmo acontecia com nossa música: a gente criava "animais" poderosos e depois os soltava em "florestas" hostis sem adaptação.
Às vezes é mais simples o animal se adaptar do que adaptar a floresta ao animal.
O que Começamos a Fazer
Há alguns anos, começamos a visitar as lojas (ou analisar as suas plantas) antes de finalizar as mixagens para elas. Nosso objetivo mudou: paramos de ir atrás da "perfeição de estúdio" e passamos a buscar a melhor inteligibilidade possível para aquele cenário. No processo, descobrimos algo interessante: quando deixávamos o som mais limpo para não misturar no eco, alguns clientes sentiam que a gravação havia perdido energia. "Ficou lento, pra baixo. Faz mais rápido!" Acontece que, em uma loja reverberante ou numa grande sala para eventos, "mais rápido" significa "menos inteligível". O som vira ruído. Daí veio o insight: além de adaptar a música, a gente precisava explicar, com argumentos técnicos, o porquê das mudanças.
Um exemplo real: em um projeto recente para uma grande rede de farmácias, o ambiente das lojas (com muito vidro, piso de porcelanato, pé direito alto, teto de gesso, você conhece o estilo) tinha eco de 2 a 2,4 segundos - mais ou menos o dobro do ideal. Não existe como solucionar isso sem obras civis. Mas, como explicamos para o cliente, reduzindo certas frequências médias em 3dB e espaçando os elementos percussivos, conseguimos aumentar a clareza em quase 40%. Mais do que suficiente para o caso. As lojas viraram estúdios? Não. Mas o som deixou de ser um ruído estressante de fundo e passou a ser uma mensagem compreensível. (Esses ajustes, aliás, impediram que o som fosse desligado pelas equipes das lojas na primeira semana. Que tal?)
Decidimos dar nome ao bicho: Análise de Ecossistemas Sônicos (AES). Também decidimos deixar claro que a AES está disponível quando o projeto envolve ambientes físicos. E não cobramos extra, avise o seu FCO. Temos interesse real em garantir que a nossa entrega pare em pé e se sustente.
Como Funciona a AES na Prática
Quando o projeto prevê pontos de venda ou eventos, apresentamos três frentes possíveis.
Primeiro, fazemos um Diagnóstico Realista, analisando a "floresta". Se o ambiente é hostil, somos transparentes: avisamos que o som precisará de ajustes para sobreviver ali. Em seguida, partimos para a Adaptação dos Assets, ajustando as mixagens para aquele espaço. Mantemos a identidade da marca, mas "alinhamos" o som para reduzir ao máximo o embolamento e aumentar a definição. Por fim, oferecemos a Defesa Técnica. Quando o cliente, por exemplo, pede "mais rápido" e essa opção é ruim para os espaços dele, damos os dados para defender a clareza e a inteligibilidade.
Tiramos a discussão da "expectativa pessoal" e levamos para a física acústica.
Por Que Isso Faz Diferença
Marcas investem milhões em arquitetura. Mas o som, muitas vezes, é tratado como mero detalhe. O resultado: clientes sentem desconforto auditivo, saem rapidinho da loja e compram menos. É mensurável. Sabemos que nem sempre é possível resolver os problemas acústicos de um prédio já pronto. Mas quase sempre é possível ajudar o cliente a não jogar fora o investimento na música. Trabalhamos para transformar o "ruído ruim de entender" em "presença de marca agradável".
Muitas vezes, essa adaptação sonora é o que separa dinheiro perdido de dinheiro bem investido.
Voltando à Onça e à Antártida
Produzir música estratégica sempre inclui entender contexto.
Uma onça-pintada é um ser magnífico, mas só prospera no habitat certo. Por isso, pensamos além do arquivo de áudio que vai pra TV, Rádio e Digital. Perguntamos: onde mais isso vai tocar? Porque, desde sempre, nosso objetivo sempre foi mais que criar música bonita. Queremos fazer essa música sobreviver à viagem até o ouvido do consumidor, e chegar lá com a mensagem inteira. Para, assim, poder morar pra sempre na cabeça e no coração das pessoas.
Faz sentido pra você?
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“Eu tenho uma teoria de que a música é, muitas vezes, escrita para se adequar a um local específico. O ambiente não é apenas o recipiente da música; ele é parte da composição.”
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